
Asma grave em idades pediátricas: controlo atempado previne perda de função respiratória crónica a médio e a longo-prazo
A convite da News Farma, Carla Loureiro, pediatra da ULS de Coimbra, explica os mecanismos associados ao desenvolvimento da asma grave nas idades pediátricas, detalhando o seu impacto clínico. Da mensagem da especialista sobressai a importância de prevenção e diagnóstico precoce desta patologia que, se não controlada, pode progredir e comprometer a função respiratória. Assista à entrevista:

A asma é uma das doenças crónicas mais comuns em crianças. “Não se sabe exatamente o porquê de termos doentes com asma mais grave que outros”, apontou Carla Loureiro, no entanto, “existem determinados acontecimentos” que podem resultar no desenvolvimento da asma grave. “Uma criança que demonstre alterações da função pulmonar aos 6 anos, aos 50 anos poderá apresentar uma diminuição da sua função pulmonar”, salientou. Como tal é importante intervir precocemente de modo a prevenir e diminuir o impacto a médio e a longo-prazo.
Sintomas em idades pediátricas
A asma é caracterizada pela inflamação das vias aéreas, que se apresenta com diferentes sintomas, em que:
- Existem crianças e adolescentes que apresentam crises asmáticas frequentes e severas, com um predomínio de tosse e muitas vezes, com expetoração;
- Existem crianças que apresentam uma persistência de sintomas, tais como a tosse, ou a sensação de peso no peito, ou uma respiração curta e rápida ou sibilos, sem qualquer crise associada;
- Existem crianças com alteração muito significativa da função respiratória, já com remodelação das vias aéreas;
- Nas crianças mais pequenas a tosse é o principal sintoma com muitas crises associadas a hipoxemia, em que na sua generalidade resultam em hospitalizações;
- Na adolescência apresentam falta de ar, dor torácica, e “muitas vezes com uma auscultação normal”.
“Em resumo há uma grande variabilidade de sintomatologia” associada à asma em idades pediátricas. A asma grave não controlada pode interferir nas atividades diárias, como dormir, assiduidade escolar e prática de desporto. Neste sentido, é de extrema importância o diagnóstico precoce da asma, nomeadamente na fase aguda, onde a intervenção pode permitir um melhor controlo da doença ou até da progressão da mesma, evitando “lesão, dano epitelial e as exacerbações”.
IL-4 e IL-13 “são extremamente importantes na inflamação” do tipo 2
Das crianças diagnosticadas com asma, até 85% podem apresentar inflamação do tipo 2 e são mais propensas a ter uma maior carga de doença. A asma grave caracterizada pela inflamação tipo 2, inclui a asma alérgica e a asma eosinofílica. A asma grave com inflamação do tipo 2, é caracterizada pelo “aumento dos níveis de IgE total, eosinofilia no sangue periférico e na expetoração, e uma elevação dos níveis de FeNO”. Com este perfil de produção excessiva de imunoglobulina E (IgE) a inflamação do tipo 2 encontra-se associada a condições alérgicas ou a outras doenças inflamatórias.
As IL-4 e IL-13 “são extremamente importantes na inflamação” do tipo 2 e “nos mecanismos que desencadeiam a asma”. A exposição do doente a diferentes estímulos nocivos podem desencadear uma resposta inflamatória, em que as IL-4 e IL-13 são ativadas uma vez que são “mediadores pró-inflamatórios”. A IL-4 tem diferentes funções, nomeadamente na “diferenciação de células Th em Th2, na produção de muco, no aumento dos níveis de IgE nas células efetoras, no espessamento da mucosa e na hipertrofia do musculo liso”. A IL-13, é maioritariamente “responsável pelos sintomas típicos de asma”.
Abordagem terapêutica
O tratamento standard da asma e exacerbações da doença incluem recurso a broncodilatadores (agonistas beta-2, anticolinérgicos), corticóides, modificadores de leucotrienos, estabilizadores de mastócitos, metilxantinas e imunomoduladores.
Neste momento, existem vários fármacos disponíveis, e dentro das terapêuticas biológicas disponíveis existe o anticorpo monoclonal, o dupilumab, que tem como alvo as IL-4 e IL-13 e “atua nestas vias de forma muito seletiva”. A utilização deste fármaco permite “a inibição da via inflamatória tipo 2”, resultando na diminuição do processo inflamatório. Este fármaco é utilizado em patologias que envolvem a inflamação do tipo 2, como é o caso “da asma, da dermatite atópica, esofagite eosinofílica” e doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), mostrando-se eficaz nas diferentes patologias. “Nas crianças pequenas com eczema atópico grave, que pode predispor ao aparecimento de alergia alimentar, a utilização de dupilumab diminui a probabilidade de desenvolver alergia alimentar, bem como a probabilidade de vir a ter asma”, destacou a pediatra.
Os estudos clínicos (VESTIGE1, QUEST2, TRAVERSE3) em que se avaliou a eficácia do dupilumab em doentes com idades entre os 0 e os 17 anos com asma moderada a grave não controlada, mostraram um benefício significativo na sua utilização terapêutica. Os resultados mostraram uma melhoria na função pulmonar dos doentes associada a uma redução na acumulação e densidade do muco e nas exacerbações.
Os corticóides são também uma arma terapêutica muito utilizada no tratamento da asma, e podem ser inalados ou orais/injetados. Os corticoides inalados são muito utilizados numa asma muito persistente e são muito eficazes como anti-inflamatórios, uma vez que reduzem sintomas da doença, bem como o risco de exacerbações.
Os corticóides orais/sistémicos são utilizados para tratar a asma não controlada ou grave, e são geralmente associados a uma curta duração da sua utilização devido a possíveis efeitos adversos, como aumento da pressão sanguínea, ganho de peso, retenção de líquidos entre outros. Como tal, em relação aos corticóides orais estes “são muito eficazes, mas devem ser preferencialmente utilizados em agudizações da doença”, em especial nas crianças e adolescentes de modo a evitar todos os efeitos secundários que a sua utilização pode originar. “À custa da boa função pulmonar não podemos utilizar corticoterapia sistémica, preterindo outros órgãos” ou ignorando os seus efeitos adversos a nível metabólico ou até ósseo.
Rematou destacando a importância de uma boa relação entre clínico, família e doentes, da explicação dos fatores de risco e da adesão terapêutica”. Em conclusão referiu que “a informação é uma grande arma” contra a doença e no controlo desta.
Mensagens chave:
- Importante o diagnóstico da asma grave numa fase mais precoce, de modo a “reduzir os sintomas que não são bem tratados”, para evitar o declínio da função pulmonar, danos epiteliais ou exacerbações;
- O anticorpo monoclonal dupilumab é uma terapêutica que mostrou grande eficácia na asma não controlada moderada a grave, com benefício na função pulmonar, a nível do muco, dos níveis de FeNO e na redução das exacerbações;
- Informar para não ignorar sintomas da asma, para podermos minimizar o impacto da doença na vida de quem tem que viver com asma.
- Porsbjerg, C. et al. Effect of Dupilumab Treatment on Mucus Plugging and Mucus Volume in Type 2 Asthma: The Phase 4 VESTIGE Trial. in A34. LATE BREAKING ABSTRACTS IN ASTHMA AND ALLERGIC INFLAMMATION A1385–A1385 (American Thoracic Society, 2024). doi:10.1164/ajrccm-conference.2024.209.1_MeetingAbstracts.A1385.
- Castro, M. et al. Dupilumab Efficacy and Safety in Moderate-to-Severe Uncontrolled Asthma. N. Engl. J. Med. 378, 2486–2496 (2018).
- Wechsler, M. E. et al. Long-term safety and efficacy of dupilumab in patients with moderate-to-severe asthma (TRAVERSE): an open-label extension study. Lancet Respir. Med. 10, 11–25 (2022).
MAT-PT-2500277 04/2025
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