
“Redefinir Trajetórias: O Impacto da Intervenção Precoce na Inflamação Tipo 2 na Marcha Alérgica”
Palestrantes: Leonor Ramos, Carla Loureiro
Controlar a dermatite atópica melhora a qualidade de vida “a curto, médio e, provavelmente, a longo prazo”
“Redefinir Trajetórias: O Impacto da Intervenção Precoce na Inflamação Tipo 2 na Marcha Alérgica” foi o tema de uma das sessões do programa do 13.º Congresso da Sociedade Portuguesa de Alergologia Pediátrica (SPAP), que decorreu de 29 a 31 de maio no Grande Hotel do Luso.
Entre as oradoras da sessão, que contou com o apoio da Sanofi, esteve Leonor Ramos, especialista em Dermato-Venereologia na Unidade Local de Saúde de Coimbra, que falou com a News Farma sobre a temática abordada. Assista ao vídeo.

A especialista começou por lembrar que a dermatite atópica “é uma patologia que assenta, acima de tudo, em três pilares essenciais” que são necessários para o desenvolvimento da patologia. Em primeiro lugar, enumerou, existe “um défice de barreira”, desencadeado pela disfunção de proteínas intercelulares, ligado a uma “disrupção da resposta inflamatória”, que está fortemente associada a um aumento da resposta inflamatória Th2, e uma desregulação do microbioma com um aumento de bactérias patogénicas, como é o caso do Staphylococcus aureus. Em suma, resumiu Leonor Ramos, “todos estes fatores, em conjunto, vão ser as bases essenciais para o desenvolvimento da dermatite atópica”.
Com a publicação da evidência científica mais recente, o papel da inflamação do tipo 2 tem ganho destaque, sobretudo no que diz respeito às patologias do foro alérgico, não apenas na dermatite atópica, mas também na asma e na rinoconjuntivite. A dermatologista explicou que são as células Th2 que produzem as interleucinas inflamatórias que, quando em circulação, “vão ativar toda a cascata inflamatória”. Neste processo, a interleucina 4 [IL-4], a interleucina 3 [IL-3] e também a interleucina 5 [IL-5] são as responsáveis por “desencadear o prurido e vão criar um círculo vicioso em que a própria disrupção da barreira cutânea vai ser perpetuada por estas alterações inflamatórias que vão, igualmente, perpetuar as alterações da barreira epidérmica”.
Os mecanismos por trás desta cadeia reativa ainda não são totalmente conhecidos, como reconheceu a oradora, mas na base destas alterações está, eventualmente, o facto de a pele ser o maior órgão do corpo humano e aquele que está, desde o nascimento, exposto a fatores alergénios que vão sensibilizar o sistema imunitário. “Se a barreira cutânea não funciona bem, vai haver sensibilização de tudo aquilo com que contactamos no nosso dia-a-dia – alérgenos, micro-organismos – que vão penetrar e desencadear a resposta inflamatória”, explicou Leonor Ramos, acrescentando que “dentro dessa resposta inflamatória, pode haver a produção de células, que são os linfócitos B, que produzem as imunoglobulinas E [IgE] específicas e essas sim vão ser um pilar fundamental também para o desenvolvimento da asma e da rinoconjuntivite alérgicas. No fundo, a pele acaba por ser o início para haver, depois, a resposta inflamatória posterior”.
Este princípio leva a supor que, ao intervir de forma precoce no tratamento da dermatite atópica, se possa ter impacto no desenvolvimento de outras patologias do foro alérgico. “Portanto, o controlo precoce e esta modelação da resposta inflamatória Th2 logo no início vai, possivelmente, evitar o desenvolvimento das outras comorbilidades”, reforçou a especialista em Dermatologia.
Diminuição do prurido traz melhoria da qualidade de vida
Nas declarações à News Farma, Leonor Ramos lembrou que a manifestação da dermatite atómica mais reportada pelos doentes, recolhidas pelos testemunhos das famílias, é o prurido. “As crianças não dormem e [em consequência] estão desatentas na escola e acabam por adormecer [nas aulas]. E este é um dos sintomas que é mais facilmente controlado quando iniciamos o tratamento com dupilumab”, frisou a oradora, reconhecendo que é reportada uma “diminuição imediata do prurido” logo após o início do tratamento com o anticorpo monoclonal Dupixent®. “São crianças que não dormiam e passaram a dormir. Portanto, passam a ter uma noite de sono reparadora e, depois, na escola vão estar mais atentos e vão ter uma performance escolar melhor”.
Com o tratamento, na opinião da especialista, a vida das crianças altera-se a olhos vistos e quem não frequentava a piscina ou não usava calções por causa das lesões passa a fazê-lo sem consequências para o desenvolvimento da patologia. “Um controlo de toda essa patologia vai melhorar a qualidade de vida a curto, médio e, provavelmente, a longo prazo”, admite Leonor Ramos.
MAT-PT-2500490
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